

Por: Belarmino Mariano*.
Nestas duas últimas semanas, o que vi de analistas políticos, historiadores e geopolíticos de plantão é de espantar. Já estou no mundo acadêmico faz uns 38 anos, dos quais, 28 giram em torno da universidade. Destes, em pelo menos 18 anos trabalho com estudos de Geografia Política e Geopolítica, sem contar com quase 12 anos lecionando no ensino médio e cursinhos pré-vestibular, especificamente sobre a geografia que tratava da velha ordem, da (des)ordem e da nova ordem geopolítica. Estes conhecimentos ficam entranhados em nossas cabeças, pois ao longo da vida acadêmica, lemos centenas de livros, artigos e revistas, jornais e portais de diferentes países. Participamos de encontros, congressos, simpósios, seminários e cursos de formação.
Nunca vou esquecer da abertura do XVII EREGENE em Feira de Santana, na Bahia em 1992, com palestra de abertura proferida por Milton Santos. Eu como membro da Executiva Nacional de Estudantes de Geografia, sendo o coordenador daquela mesa histórica em que o saudoso Milton Santos palestrou sobre “A NOVA ORDEM MUNDIAL”. Talvez daquela palestra tenha nascido o pequeno livro "Por uma outra globalização", publicado pela Record em 2001, pois é um livro claramente de opiniões, posições e apontamentos que se afastam do rigor científico formal, apesar de ser uma produção com conteúdos ao alcance de todos/as.
Confesso uma coisa para vocês, não é me gabando não, mas quem foi da geração 1970, 1980, 1990 e 2000, não apenas leu coisas sobre esses temas. A gente viveu na pele todas as tensões de uma guerra fria, todos os solavancos de uma Ditadura Militar no Brasil e em quase toda a América Latina, pois desse continente, escaparam basicamente as Guianas e o Suriname, que de fato nunca se tornaram independentes.

Agora ficar escutando uns “moleques” do jornalismo nacional e internacional, dando uma de entendidos, rasgando a história e encobrindo os fatos na nossa cara, não dá para ficarmos calados. Eu aprendi não por obrigação ou força, aprendi porque queria saber ao máximo sobre a ciência geográfica, sobre a geo-história, ciências sociais antropologia e política, com as quais sempre me identifiquei desde muito jovem.
Me tornei professor mesmo antes de concluir o curso, pois no mercado havia carência de professores, daí peguei um amor, uma paixão por essa profissão que já estou chegando perto de me aposentar, aprendendo, ensinando, aprendendo, pesquisando, me envolvendo com as questões políticas locais, nacionais e internacionais e sempre adotando os princípios e abordagens metodológicas que apontavam para o Materialismo Histórico e Dialético (Marx e Engels), em que não podemos escamotear a realidade, pois quem o faz, termina errando em sua análise, em especial em temas como o modo de produção capitalistas, suas contradições e crises de manutenção.
QUESTÕES PARA A GEOPOLÍTICA
Feito este preambulo, vamos nos dirigir aos fatos com os quais estamos envolvidos, pelo menos nos últimos 30 anos, tempo suficiente para estruturação de uma ordem mínima das coisas. Mas antes de analisarmos esse realidade espaço-temporal, precisamos levantar algumas questões, pois sem elas nos atrapalharíamos no caminho e na escolha para a análise:
NEOLIBERALISMO E DESINTEGRAÇÃO SOVIÉTICA - O QUE AINDA SE ESCONDE NOS ESCOMBROS?
Poderíamos levantar dezenas de outras questões, mais esse pequeno artigo se tornaria quase infinito, o que, nos permite dizer, que as questões aqui, não serão respondidas a contento, mas apenas suscitadas para outras reflexões. Uma coisa é certa, muitas análises políticas sobre as décadas de 1980 e 1990, foram superficiais e revisionistas, em especial, aquelas que tentaram dar conta de analisar a queda rápida ou repentina de um gigante político (URSS), em meio a uma aguda crise do capitalismo imperialista americana e europeia, os obrigando a apelar para o esgarçamento das nações subdesenvolvidas, com o famigerado plano de neoliberalização da economia, com menos estado e mais iniciativa privada. Um plano do Fundo Monetário Internacional (FMI), endossado pelo Banco Mundial e pelas principais potências capitalistas da época.
Para que esse plano funcionasse, seria necessário ampliar a base de exploração e convencimento de outras nações, com isso fazer concessões para que países como a China, países asiáticos e países do Leste europeu, se interessassem pela possível renovação econômica do mundo. A propaganda do lado capitalista foi bem-feita e alguns grupos da Ex-URSS, também mostraram interesse pelo tema. Podemos dizer que a partir de 1985, as conversas já estavam adiantadas e até mesmo, acordos de desarmamentos entraram na mesa de negociação.
Muitos nem imaginam, mas os acordos para reunificar as “Alemanha Oriental e Ocidental” já estavam avançados desde 1986, devido aos encontros diplomáticos das superpotências, que culminou com a queda do Muro de Berlin em 1989 e, que passou para a história como um ato da população dos dois países, simbolizando os novos tempos do livre mercado.
Da reunificação da Alemanha, para a reabertura política no leste europeu, saída soviética do Afeganistão e gritos de independência das pequenas repúblicas bálticas (Letônia, Lituânia e Estônia). Chegamos em dezembro de 1991, com as ondas neoliberais varrendo Moscou, em um misto de golpe político dentro da Federação Russa e a rearticulação a partir do XX Congresso da URSS para discutir as mudanças que historicamente estavam em curso.
Ainda hoje nos perguntamos como que isso aconteceu tão rápido e tão intenso? Nem mesmo os mestres e os doutores em União Soviética e Rússia, ainda conseguiram responder a estas questões e talvez nem respondam, pois novos fatos reacendem novas perspectivas. Essa foi uma situação que merece muito estudo, muita análise, para além do que a grande mídia propagou como o fim do comunismo.
Uma coisa é certa, a EX-URSS se dissolveu ao final de 1991 e ao mesmo tempo em que se desintegrava, deu origem a uma nova organização geoeconômica aos moldes de vários blocos que se formaram ao longo dos anos de 1970 e 1980 em regiões influenciadas ou controladas pelo capitalismo norte-americano. Assim, nasceu do antigo bloco soviética a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), com 15 das 18 ex-repúblicas que compunham a URSS, apenas os países bálticos não quiseram compor essa nova comunidade geoeconômica. Pareceu uma saída honrada para os mais de 73 anos de história de um poderoso bloco geopolítico que foi capaz de rivalizar milhares de situações conflituosas ao longo de 1917 (Revolução Russa) a 1991 (fim da União Soviética).
Lembro que no verão de 1991, escrevi um pequeno artigo sobre "Geo-história e Separatismo", para a série Fragmentos, do periódico Anarquista Edições Motim. Eram ensaios datilografados em estêncil a óleo e depois impressos em tiragens de no máximo 500 cópias. Começou com um pequeno alerta em que afirmava que o “mono é a destruição da diversidade dos organismos e que a humanidade está se construindo como uma grande monocultura planetária”. O leste europeu virou um caldeirão de revoltas em todas as direções, liberalismo e separatismo se misturavam em ondas nacionalistas, crises entre grupos étnicos e poder político para comandar os destinos de uma "nova ordem" que se apresentava.
ARMADILHAS DO NEOLIBERALISMO, DITADURAS E TIGRES ASIÁTICOS
Via que naqueles movimentos, estava se desenhando um momento em que ao invés de duas, apenas uma força política se tornaria hegemônica e mesmo que nacionalismos exacerbados e grupos separatistas fragmentassem seus territórios históricos, no geral o imperialismo capitalista, liderado pelos norte-americanos ganhava força, o que em curto prazo geraria muita tensão entre os blocos de países que começavam a se alinhar, muito mais geoeconomicamente, do que geopoliticamente.
Tudo parecia um furacão de velhas novidades e, estávamos no olho do furação, pois algumas ditaduras também começavam cair aqui na América Latina, fruto da forte crise econômica que o capitalismo da velha ordem não conseguia mais solucionar. Vale registrar que, com o fim das ditaduras militares em países subdesenvolvidos que eram controlados pelos americanos e europeus, foram engolidos pela nova onda neoliberal, com a eleição de governos que rapidamente passaram a privatizar empresas estatais a preços irrisórios e adotar políticas de instalação de governos em que os direitos sociais foram aviltados em quase todos os seguimentos, sendo comandado por empresas multinacionais e grupos econômicos estrangeiros.
Do outro lado do mundo, japoneses coreanos e chineses não fizeram movimentos bruscos, pois a presença militar norte-americana nessa área impediu mudanças geopolíticas significativas. As Coreia dividida não teve a mesma sorte da Alemanha unificada, mas a região recebeu uma forte injeção de dólares, fazendo surgir em pequenas nações um pujante capitalismo de novas tecnologias e de substituição de exportações: "Os Tigres ou Dragões Asiáticos", passaram a inundar o mundo com mercadorias que até então, só circulavam nos países desenvolvidos. Zonas Especiais de Livre Comercio da China, Japão, Coreia do Sul, Hong Kong, Taiwan, Filipinas e Indonésia eram o novo celeiro hi-tech do mundo capitalista.
Nestes 30 anos de neoliberalismo, os países subdesenvolvidos ficaram quase sem nada, pois governos entreguistas e corruptos solaparam o patrimônio estatal e soberania popular destes territórios, ao exemplo de países como México, Brasil, Argentina, Chile, África do Sul, países do Oriente Médio, Norte da África, Índia e Sudeste Asiático, todos foram depenados pelo FMI. Banco Mundial e transnacionais oligopolizadas pelo capitalismo central. Estatais do Petróleo, demais setores energéticos, recursos minerais e meios de comunicação, setores de ciência e tecnologia foram os principais alvos.
Uma das armadilhas do neoliberalismo e sua receita para os países subdesenvolvidos foram os diferentes níveis de endividamento externo destes países, os processos de dolarização das economias e as regras do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM), essa receita fez com que, estes países mergulhassem em profundas crises econômicas, sociais e políticas, os levando as aventuras de potenciais “salvadores da pátria” que defendia o estado mínimo para saírem das crises provocadas por quem propunha o neoliberalismo econômico e político. Esse modelo trouxe mais dependência financeira, econômica e tecnológica, pois as industrias nacionais não conseguiam competir com as gigantescas transnacionais.
Para os países do Leste europeu que estivessem querendo entrar na “Roda Gigante do Capitalismo”, bastava vender suas empresas estatais para a iniciativa privada multinacional, adotando governos “democráticos” neoliberais comprometidos com o mercado em todos os sentidos. Podemos dizer que houve uma verdadeira avalanche de países embarcando nessa nova onda, muitos enterram as bandeiras comunistas ou socialistas e os vários partidos que ainda guardavam alguma relação com essa ideologia eram hostilizados e, ou se modernizavam, mudavam de nome, mudavam de cores e de símbolos, ou simplesmente eram derrotados em eleições locais.
Pareceu algo mágico e encantado nessa grande onda de mudanças. Os mais radicais derrubaram estatuas de grandes lideranças e gritaram nas ruas que o comunismo e o socialismo haviam acabado, deixando órfãos centenas de partidos em centenas de países em todo o mundo. Esse fenômeno gerou uma espécie de cartasse e revisionismo político e as respostas não eram suficientes para entendermos essa nova realidade. Terapia coletiva, nova era, era de aquários, esoterismo e orientalismo foram muitos os caminhos da esquerda e, quem quis continuar na política, com raras exceções passou a defender um socialismo libertário, pois os muitos partidos comunistas e ou socialistas, mudaram de nome e de estatuto partidário ou foram reduzidos ao extremo.
Os grupos conservadores e os partidos da direita, também mudaram as suas vestimentas e se tornaram modernas forças neoliberais, transvestidas de sociais-democratas, democratas cristãos, liberais democratas etc. As velhas raposas da política passaram a surfar nas ondas do neoliberalismo e faziam as contas para negociar empresas estatais como excelentes negócios para a modernização do país e dos negócios particulares. Patrimônios territoriais e estatais foram vendidos ao preço de bananas e em menos de uma década, dinheiro das privatizações gasto e problemas socioeconômicos acumulados, as crises do neoliberalismo começaram a estourar em diferentes partes do mundo.
30 ANOS DE GLOBALIZAÇÃO - SERÁ QUE A BRINCADEIRA ACABOU?
Mas o mundo globalizado já se encontra em um outro patamar, redes sociais em alta, consumismo desenfreado, endividamento dos indivíduos em diferentes níveis, cartão de crédito, hipotecas, acesso a compra de bens duráveis em 50 ou cem meses. Investimentos em bolsas de valores, viagens internacionais e empregos em multinacionais eram sonhos aparente ao alcance de todos. Bastava um “pouquinho de esforço individual ou fé em Deus” e tudo era possível. Os programas de TV, a internet, os computadores domésticos e os telefones de bolso, encantaram as pessoas e como afirmou Milton Santos em 2001, o "mundo globalizado como em uma fábula", estava ao alcance de todos.
Nesse novo mudo global e interligado, trabalhadores, operários ou camponeses se transformaram em associados, colaboradores, agricultores familiares ou pequenos produtores rurais não eram mais camponeses e em um passe de mágica era como se não existisse mais luta de classes, nem antagonismos sociais, as desigualdades se transformaram em diferenças sociais, em que qualquer um poderia transcender com estudo e trabalho.
Nos países subdesenvolvidos o capital financeiro chegou ao campo, gerando uma agroindústria sem precedentes. O agronegócio se ampliou e milhões de trabalhadores rurais perderam seus empregos para as máquinas, suas moradias foram derrubadas para a expansão de grandes monoculturas, gerando desempregados e desabrigados do campo. Estes ampliaram as cidades gerando um caos urbano de submoradias em todas as direções, favelas, cortiços, palafitas, desempregados e subempregados se tornaram situações banais.
Nas universidades novos intelectuais davam conta de analisar diferentes possibilidades e aqueles ortodoxos de metodologias arcaicas que insistiam em papel e LP, estavam mofando em suas teorias fora de moda. O "fim da história" foi anunciado e a velha guarda virou memória ultrapassada. Imaginem como os debates ideológicos perderam o sentido, em especial quando as pessoas só estavam preparadas para as dicotomias (EUA x URSS), sem o exercício dialético de fato.
As vezes brinco com meus alunos, dizendo que sou daqueles que ficou entre os degraus da modernidade e a soleira da pós-modernidade, pois consegui absorver tanto as teorias socialistas e as libertárias e nesse interim, sempre desconfiei das bonanças do neoliberalismo. Na máxima em que a pobreza foi feita para os padres, poetas e comunistas, sempre achei que na verdade, a pobreza é o grande alimento dos capitalistas.
Hoje, depois de quase 30 anos de neoliberalismo, estamos sentindo o peso dessa cilada, com velhos discursos e velhas práticas que dão a tônica para uma nova crise dentro do sistema capitalista aparentemente hegemônico, mas profundamente fragmentado, que se utiliza de velhas práticas, de velhas políticas e ações para garantir o status cor do imperialismo capitalista central.
Na última década, comecei a desconfiar de discursos anticomunistas e antissocialistas como se ainda estivéssemos na velha ordem da Guerra Fria. Nas redes sociais, grupos crescentes defendiam posições claramente de extrema-direita, posições conservadoras e por incrível que pareça, estes grupos estavam sendo alimentados no submundo e nas garagens de forças obscuras preocupadas com o que eles passaram a chamar de perigo comunista, quando na verdade, se referiam aos avanços da China no cenário mundial. Qualquer país que no passado houvesse rivalizado com os Estados Unidos e que de alguma maneira estiveram ligados a EX-URSS, passaram a ser alvo desses grupos.
Pobres dos cubanos que até então ainda não haviam embarcado nas ondas do neoliberalismo, os Norte-coreanos se tornaram alvo de constantes fake news, os venezuelanos que nunca estiveram do lado soviético da guerra fria, pelo simples fato de um governo mais nacionalista e patriótico foi logo tachado de comunista e aos velhos moldes da Guerra Fria, os EUA tentaram através de um golpe, destituir o governo em 2001.
Também vale registrar que as primeiras décadas do século XX foram significativas para que partidos populares de trabalhadores e de esquerda, assumissem o poder em vários países, exatamente com pautas antineoliberais e com projetos de valorização sociais das camadas populares. Estes governos frearam alguns aspectos das políticas privatizadores das décadas anteriores e alguns chegaram inclusive a estatizar e re-estatizar setores da economia, dando maior autonomia e soberania nacional. Isso incomodou estes grupos de extrema direita e tudo no discurso desse pessoal era identificado como comunismo.
No entorno da Rússia e da própria China, as ações da OTAN eram abertamente praticadas e começamos a perceber o estimulo aos movimentos separatistas e, com o discurso de combate ao terrorismo do Oriente Médio, os Estados Unidos e a OTAN entraram fortemente nessa região. Mas na macro estrutura ideológica do sistema, não se percebia o desenho de uma suposta nova guerra fria, pois com o combate aos supostos grupos terroristas, os norte-americanos invadiram dezenas de países na África e no oriente Médio.
FAZER GEOPOLÍTICA COM AÇÕES GEOECONÔMICAS
Ninguém parou para pensar que velhas práticas econômicas adotadas pelo capitalismo norte-americano como sanções, embargos ou bloqueios econômicos contra países que não lhe obedecem, também eram práticas de gregos e romanos, desde a antiguidade. Para os Estados Unidos, desde a velha ordem, passando pelas guerras mundiais e chegando a Guerra Fria, estas práticas econômicas e o apoio aos golpes militares e até mesmo a ocupação militar de países mais frágeis militarmente, deram a tônica de sua dominação mundial.
Mas parece que, o que parecia ter se consolidado enquanto neoliberalismo e globalização, tem escaramuças e fatos que não se explicam tão facilmente. Uma delas é observarmos que o mundo globalizado integrou ou fundiu países e economias de tal maneira que o interesse individual de uma das partes pode afetar profundamente as outras. O mundo se globalizou de tal maneira que velhas armas que funcionam contra pequenos países como Cuba, Nicarágua ou Venezuela, podem não funcionar contra outros como a China, Rússia ou Irã.
Mesmo que existam fortes choques culturais religiosos, territoriais e econômicos entre as nações e que as desigualdades sociais sejam camufladas pelos meios de comunicação de massas. Por outro lado, parece que a globalização, de alguma maneira acelerou o internacionalismo e a mundialização entre os povos, gerando empatia, solidariedade e necessidade de conhecermos em detalhas as outras culturas, países e continentes. Não digo que isso seja algum tipo de nova abordagem socialista ou comunista, longe de pensar nisso. O mundo globalizado, parece que incomoda até mesmo alguns países que estão no topo desse modelo.
Já é notório que, mesmo com uma forte pressão das grandes mídias e redes sociais, bombardear a opinião pública com contrainformação e repetição exaustiva de factoides ou cultura alienante, com programações idiotas e gostos culturais duvidosos, vemos que jovens e adultos mergulham cada vez mais profundo em movimentos e ideias que contrariam a base do sistema central. Para alguns analistas existe uma guerra de ideias e opiniões no seio das redes sociais, em alguns casos, existe muita manipulação e contrainformação, gerando uma nova militância do ciberespaço.
Nas redes sociais, mesmo que exista uma massa muito influenciada ao primeiro olhar, também é uma massa desconfiada e até certo ponto consciente que “algumas coisas estão fora da ordem, da tal nova ordem mundial”. Sem querer influenciar meus filhos de 21, 13 e 11 anos de idade, me surpreende as suas compreensões do mundo em que vivem, suas escolhas, suas opções. Vejo que suas mães também não usam do artifício do aparelhamento ideológico e essa molecada, responde muito criticamente em relação aos conceitos, preconceitos e atitudes perante esse mundo consumista e cheio de conteúdos vazios. Fico impressionados quando vão a minha estante de livros e separam coisas que li nos anos 80 ou 90... e leem e depois querem discutir, achar respostas que não ecoam mais em nossa realidade.
Aí eu começo a pensar que propaganda não muda realidade história, até influência, interfere, mais mudar mesmo não muda. A crise do imperialismo norte-americano, mesmo que tenham a maior estrutura militar do mundo, espalhada em mais 750 bases, em dezenas de países, inclusive com grande efetivo militar fora do seu território, talvez nem dará conta de lhe garantir a eterna hegemonia do mundo, cada vez mais globalizado e nem mesmo poderá lhe proteger dos reverses da história de fato.
Mas não é só isso, a crise do imperialismo capitalista não é apenas norte-americana e dos seus sucessivos governos de extrema direita (com ares democratas ou republicanos), conservadores e militaristas, começar a sentir as ameaças reais, vidas de países que sempre foram ameaçados pelo seu poderio bélico, era uma coisa distante uns 30 anos, maquilagens da guerra fria. Nos últimos anos, quando liamos conflitos era sempre com preocupações mercadológicas, guerras comerciais ou algo parecido. Isolar um país, embargar outro, taxar determinadas mercadorias, como as disputas entre EUA e China, sempre nos situávamos em leituras geoeconômicas globais.
Algumas práticas dos Estados Unidos contra pequenos países como Cuba funcionavam e ainda continuam. A pequena ilha já vive sob o embargo econômico norte-americano desde 1950, ou seja, aos 72 de sua revolução, os cubanos liderados por Fidel Castro, nunca se dobraram a grande potência geopolítica que lidera o imperialismo capitalista há quase um século.
Agora imaginem isso com países como a China, que foi arrasado pelo imperialismo britânico e francês, que foi invadida e arrasada pelo imperialismo japoneses, que passou por dezenas de guerras anticoloniais e pela Revolução Socialista liderado por Mao Tsé-tung também na década de 1950, também sofreu fortes embargos dos EUA. A China, apesar de gigante era um país extremamente pobre e destruído pelas guerras, mas que ao longo dos últimos 50 anos se tornou a segunda maior potência econômica do mundo e a primeira em vários setores.
NOVA GUERRA FRIA OU CONFLITOS GEOECONÔMICOS CAPITALISTAS COM IMPASSES MILITARES E TERRITORIAIS?
Imaginem os Estados Unidos em crise política e econômicas querendo provocar a Federação Russa, um país com a maior capacidade bélica do planeta, herdada da Ex-União Soviética. Mesmo não sendo a maior ou uma das dez maiores economias do mundo, possui um dos maiores potenciais energéticos e minerais do Planeta, tendo ao seu redor uma forte coesão política de vizinhos que congregam a CEI, desde 1992 e que continuaram no raio direto de influência política, econômica e cultural com a Rússia, além de sua ampliação de forte influência econômica com a União Europeia que depende em até 40% do mercado russo de gás e petróleo aos preços que chegam a serem inferiores em até 45% dos preços praticados pelas grandes empresas americanas, que também aproveitam os preços baixos para comprar os produtos russos.
Aqui não estou querendo entrar no mérito que o mundo viva uma guerra em diferentes aspectos, entre os quais se destaca a economia, o ciberespaço, as tecnologias e os enfrentamentos militares. Apesar de tensões e operações militares no leste europeu mais especificamente entre a fronteira russo-ucraniana, gerados e que já se arrastam em pelo menos oito (08) com golpe político na Ucrânia, anexação da Crimeia a Rússia e massacre de minorias russas pelo governo da Ucrânia, em território que o governo russo acabou de reconhecer como áreas separatistas (Donetsk e Luhansk), que se tornaram independentes e pediram para se integrarem a Federação Russa e foram reconhecidas.
Esse conflito pontual ou regional que já dura quase uma década, nada mais é do que uma acomodação geoestratégica de forças geopolíticas em disputas geoeconômicas, muito mais provocadas pela própria situação de crise econômica do imperialismo capitalista, do que as propagandas do imperialismo tenta lançar pelas suas mídias e redes sociais.
Isso ocorre da mesma maneira que essa grande mídia tenta esconder as dezenas de outros conflitos provocados pelos próprios norte-americanos em continentes como África, Oriente Médio, Ásia e América Latina, conflitos que já geraram nas últimas duas décadas, mais de 26 milhões de refugiados. Intervenções militares, invasões e ocupações, que sempre contaram com o apoio da OTAN ou de aliados que são controlados pelos interesses do imperialismo americano. Os lucros e as vantagens econômicas dessas ações militares sempre justificam os altos riscos militares, pois o mercado de armas e de guerras é muito lucrativo.
Alguns desses conflitos, serviram de propaganda do poderio imperialista ao exemplo do apoio norte-americano ao Estado artificial de Israel, contra palestinos e outros países de fronteira, além da invasão do Iraque e do Afeganistão e das constantes pressões geopolíticas contra Irã e Paquistão. A tentativa frustrada de invasão da Síria, que além de encontrar forte resistência teve o decisivo apoio do governo russo. A inexplicável e estabanada saída do Afeganistão, país que foi berço de forte pressão dos Estados Unidos, durante a Guerra Fria contra a URSS na região da Ásia Central, Cáucaso e Oriente Médio.
Muitos ainda não compreenderam a saída estabanada das tropas americanas, inglesas e francesas do Afeganistão no ano de 2021. O Talibã, foi um movimento criado pelos Estados Unidos, contra o Socialismo que estava sendo implantado no Afeganistão com o Partido Democrático do Povo do Afeganistão (SAUR, 1978).
Esse movimento Saur havia provocado uma revolução política, cultural e econômica no Afeganistão. Tanto para homens quanto para as mulheres. Educação, saúde, desenvolvimento socioeconômico e respeito as diferenças.
Com a implantação do Socialismo, as mulheres passaram a ter direito a escola e começaram a viver a liberdade, inclusive compondo o Exercito de Libertação do país e assumindo funções políticas e de comando. Muitos não sabem, mas em plena Guerra Fria, os Estados Unidos, a partir do Paquistão, passaram a recrutar crianças e jovens afegãs em campos de refugiados para treinamentos militares, para o combate contra os socialistas afegãos que tinham apoio soviético.
O Talibã nasceu assim, constituiu-se de crianças e jovens e lhes foi oferecido treinamento militar, enquanto chefes religiosos sunitas ou islâmicos aos moldes árabes lhes deram uma base religiosa fundamentalista, com a história da guerra santa e das 200 mulheres nos jardins de Alá, para quem morresse lutando contra o inimigo. O fundamentalismo árabe veio com Osama Bin Laden e outros lideres religiosos tribais que, depois de quase uma década lutando contra os socialistas afegãos e os soviéticos, estes se retiraram em 1989, enquanto o país foi tomado por uma guerra civil entre os próprios afegãos, pela disputa do poder nacional.
Nessa luta, bem armados pelos americanos, os talibãs assumiram o poder. Então juntaram as armas capitalistas e o fundamentalismo islâmico passaram a destruir os direitos sociais construídos em décadas anteriores. Dissolveram o parlamento, o poder judiciário, acabaram com os sistemas cooperativos de produção e proibiram as mulheres de estudarem, além de matarem todos os potenciais inimigos no novo regime.
A partir de 2001, com o discurso de combate ao terrorismo que destruiu as torres gêmeas americanas, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão em confronto direto com os talibãs. De 2001 a 2021 já eram 20 anos de invasão americana ao Afeganistão. Corrupção, roubo do petróleo, contrabando americano de papoula, ópio e outras riquezas. Também existe uma desconfiança internacional de outros interesses americanos na ocupação da região, entre elas o desenrolar da "primavera árabe" e a Guerra na Síria a partir de 2011. Ainda não temos uma explicação plausível para a saída ou abandono desse território pelos americanos, que passaram a embargar o Afeganistão que passou as mãos do Talibã mais uma vez. A saída apressada, tem provocado uma situação trágica, pois analistas dão conta que, seriam massacrados pelo Talibã e os outros grupos nacionalistas afegãos, situação semelhante ao que ocorreu no Vietnã entre 1955 e 1975.
VELHAS PRÁTICAS INTERNACIONAIS DA NOVA ORDEM NOS CONFUNDEM DEMAIS COM A GUERRA FRIA DE OUTRORA
Acompanhado todos estes conflitos da chamada Nova Ordem Mundial, ficamos pensando sobre o longo período em que se estendeu a chamada “Velha Ordem Geopolítica Internacional”. Sabemos que existe um consenso em que a “Velha Ordem Internacional” se estendeu da Revolução Industrial (meados do século XVIII) até o final da Guerra Fria (1992). Mesmo que estes momentos sejam profundamente distintos, ambos apresentam elementos estruturais de ordem geopolítica e geoeconômica mundial que permite aos historiadores, sociólogos, geógrafos, economistas e cientistas políticos, uma leitura integrada.
Um dos fios condutores das análises é a consolidação do imperialismo capitalista europeu e norte-americano (entre a primeira e segunda revolução industrial) e as guerras de disputas pelo controle colonial, em especial na África, Ásia e Oceania, além das disputas imperais na Europa do século XIX (britânicos, francos, prussianos, austro-húngaros, russos e turco-otomanos), até chegarmos ao século XX, com a 1ª Guerra Mundial, Revolução Russa e formação da URSS, ascensão do nazismo, fascismo e a 2ª Guerra Mundial.
A Guerra Fria que começou por volta de 1947 e se estendeu até 1992 foi um desdobramento da 2ª GM, com uma nítida disputa política, econômica e ideológica entre as duas potencias que emergiram ao final da 2ª GM, Estados Unidos e União Soviética, que mesmo tendo sido aliadas durante a guerra contra nazistas, fascistas e o império japonês de Hirohito I, depois do conflito tomaram caminhos opostos e foram responsáveis diretos pela Guerra Fria.
Ao final da 2ª Guerra, com os ataques atômicos americanos a Hiroshima e Nagasaki, além da ocupação militar dos EUA ao Japão e pelas disputas político territoriais dentro da Alemanha que foi dividida em quatro zonas de controle russo (oriental), britânica, francesa e americano (parte ocidental), os interesses opostos das duas potências geopolíticas foram aumentando até que as hostilidades geraram um completo afastamento, isolamento e bloqueios econômicos, militares, sociais, culturais e políticos que duraram até 1991.
A Guerra Fria, apesar que não ser marcada por um longo período histórico, foi muito intensa do ponto de vista geopolítico e geoestratégico, bem como por grandes ações revolucionárias e adesão de países tanto ao bloco soviético quanto americano. Também foi um longo período de instalação de ditaduras militares, tanto do lado soviético, quanto do lado americano, bem como, de movimentos de independência ao exemplo da Revolução chinesa, cubana, angolana, entre tantas outras que se tornaram países independentes ou ditaduras militares aliadas de uma das duas potências geopolíticas.
No começo de 1949 a 1955 as duas potências já haviam criado duas organizações geoestratégicas com poderio militar ao exemplo da OTAN (Organização Tratado do Atlântico Norte (1949) constituída pelos Estados Unidos Canadá e os dez maiores países da Europa Ocidental) e do lado soviético a formação do Organização do Tratado de Varsóvia (OTV, 1955) ou Pacto de Varsóvia, que tinha a mesma função de defesa e proteção militar dos seus aliados do Leste europeu e da URSS, contra as potências aliados dos norte-americanos.
Além dessas duas organizações, passamos a ter uma forte corrida armamentista e de tecnologias aeroespaciais e de informação, tecnologia e inteligência monitoradas por grupos secretos que atuavam entre as duas potencias com espionagem, roubo de tecnologias e conhecimentos científicos além de cientistas das duas potências ou de países aliados que eram atraídos para o poder central das duas potências bélicas. Também foi uma época de grandes conflitos regionais, ao exemplo da guerra da Coreia (1950-1953), que culminou com a divisão do país entre Coreia do Norte, sob influência russa e Coreia do Sul sob influência norte-americana.
Outro grande conflito em que os norte-americanos se lançaram, foi a invasão do Vietnã (1955-1975), conflito que chegou a dividir o país em dois, mas que os vietnamitas do Norte, não reconheceram e continuaram na luta até a expulsão dos norte-americanos dos seus territórios. Esse conflito arrastou quase todos os países do sudeste asiático para dentro da guerra mais violenta da região e mais duradoura do período da Guerra Fria.
FIM DA GUERRA FRIA, SEPARATISMO OU O COMEÇO PARA NOVAS GUERRAS?
O período da Guerra Fria (1947-1991) foi marcados por conflitos regionais que ocorreram no extremo oriente, sudeste asiático, Oriente Médio, países africanos e na América Latina, principalmente para combater ditaduras militares financiadas e mantidas pelos governos dos Estados Unidos. Além de algumas ditaduras mantidas pelos soviéticos. Apesar da falsa ideia de que as grandes potências não se enfrentaram diretamente, não significa dizer que os grandes conflitos vividos em todas estas regiões, tenham sido de menor importância, pois milhões de pessoas morreram nestas guerras e ainda existem sequelas até os dias atuais, como a manutenção e expansão da OTAN de 12 para 30 países, a manutenção da divisão político-territorial da Coreia e a tensão constante entre a China Continental e a China Insular (Taiwan).
Recentemente observamos que também se criou uma falsa ideia de que com o fim da Guerra Fria (1992) os conflitos armados foram praticamente encerrados. Mas isso não foi verdade, pois tanto as guerras separatistas da Europa, como as guerras na África e no Oriente Médio, até se intensificaram. Os movimentos separatistas que dividiram países no Leste Europeu acirraram velhos conflitos separatistas na África e até mesmo na Europa Ocidental.
No Leste europeu o caso mais conflitante foi a região da ex-Iugoslávia. Com violentos conflitos, em especial entre 1991 e 1997 que se estenderam até 2006, quando ao final destes conflitos, o país havia mergulhado na maior fragmentação territorial da geopolítica recente, deixando um saldo de formação de oito novos territórios, entre os quais: Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Servia/Iugoslávia, Macedônia, Montenegro, além dos territórios de Kosovo e Voivodina, ainda em litígio.
Em se tratando dos conflitos entre os iugoslavos, esse foi o primeiro grande conflito pós-guerra fria, que teve o direto envolvimento dos Estados Unidos e da OTAN, sem que a ONU tivesse feito algum tipo de análise da situação e que só depois, sob a pressão norte-americana cedeu ao discurso pró-imperialista, que já havia provocado todo o tipo de desastres humanos na região dos Balcãs.
Claro que a Iugoslávia era um território identificado como de maioria eslava, marcada por diferentes tribos desde a antiguidade, tendo ficado isolada dos Eslavos do Norte e Leste (Rússia, Bielorrússia e Ucrânia), além dos eslovacos, poloneses, búlgaros, tchecos, cossacos e outras etnias eslavas. A palavra Iugoslávia significando Eslavos do Sul.
Na verdade, esse território dos Balcãs, sempre esteve no meio do caminho entre os grandes impérios que foram se formando desde a antiguidade, como domínios dos greco-romanos, turco-otomanos e austro-húngaros que submeteram os eslavos do Sul aos seus interesses políticos, econômicos e cultural religiosos, tornando estes territórios de maioria eslava, mas com adoções religiosas distintas como cristãos ortodoxos, católicos apostólicos, islâmicos e judeus, gerando um caldeirão de tensões étnicas e culturais ao longo da história humana nos Balcãs.
A unificação dos eslavos do Sul que deu origem a Iugoslávia sempre esteve no cerne das questões geopolíticas territoriais que só foram possíveis depois da 1ª Guerra Mundial, pois entre os séculos XVIII e XIX essa região foi território de constantes disputas, controle perdas, entre ortodoxos, mulçumanos, turco-otomanos, austro-húngaros, gregos, albaneses e italianos. Ao final da década de 1920, por volta de 1929 os eslavos do Sul constituíram o Reino de Sérvia Croácia e Eslovênia. Durante a 2ªGM, foi invadido em 1941 pelos alemães e italianos, gerando um verdadeiro massacre nazifascista na região, submetendo esse povo e território aos interesses de Hitler.
A predominância da etnia eslava e a consolidação da União Soviética liderada pelos russos, criou as condições para a progressiva unificação territorial e quando foram libertados dos nazifascistas, ao final da 2ª Guerra Mundial, foi dissolvido o reino e instalada a República Popular Federativa da Iugoslávia. A República se manteve unida até 1991 e, com a desintegração da URSS o país viveu sua pior e mais sangrenta disputa, com interferência direta da OTAN. Essa onda separatista que em menos de uma década fragmentou o território em oito países e dois territórios ainda em litígio, ainda choca analistas internacionais.
Foi de fato o primeiro grande conflito armado pós guerra fria, com o envolvimento de tropas internacionais, massacres, genocídios ou “limpeza étnica” só vistos durante o nazi fascismo da 2ª GM. Os debates entre nacionalistas e separatistas acirrou as tensões em toda a Europa, do Reino Unido como os radicais do Exercito de Libertação da Irlanda, passando pelos separatistas bascos no Norte da Espanha e catalães no Sul da Espanha, além de movimentos separatistas na Itália com dezenas de grupos étnicos, partindo de Nápoles, Veneza, Lombardia, Sardenha e Sicília, entre tantos outros grupos extremistas que defendem a saída da Itália por não se sentirem italianos, ou se sentirem discriminados etnicamente.
Uma nova guerra ou conflitos de proporções regionais, dentro da Europa poderão sacudir mais uma vez os movimentos separatistas no Reino Unido, Espanha, Itália e outros países do continente. Algo parecido com o que acontece desde 2014 dentro da Ucrânia com a independência da Crimeia e a anexação a Federação russa, além da região leste de Donatsk e Luhansk. bem como, de dezenas de outros conflitos separatistas dentro do próprio território russo.
Outras regiões com fortes movimentos separatistas são encontradas no Oriente Médio, com os Curdos e na Ásia Central, Cáucaso (entre o Mar Negro e o Mar Cáspio), envolvendo separatistas nas fronteiras com a Rússia, Georgia, Azerbaijão e muitos outros países dessa região. Minorias étnicas e o sonho de um território independentes, além de enclaves étnicos entre estes países geram constantes conflitos, inclusive com disputas armadas e conflitos sangrentos.
Aqui ainda podemos falar que conflitos entre Paquistão e Índia (região da Cachemira), China e suas regiões autônomas da Mongólia Interior, Sin-kiang, Tibet, Guangxi e Ningxia, além de Taiwan que em década se considera separada da China continental, fato que não é reconhecido pela grande China, mas os Estados Unidos e a OTAN desejam que essa situação de independência se concretize. Além de Hong-Kong que também deseja se emancipar da China, com pressões externas dos ingleses, americanos e franceses.
Mas a ideia é apenas relembrar aos leitores que, com a derrubada do Muro de Berlin e a reunificação da Alemanha, o mundo por incrível que pareça passou a viver situações inversas e a aparente hegemonia norte-americana fez com que os Estados Unidos intensificassem ainda mais geoestratégias expansionistas e militaristas em todo o mundo, com muito mais força política e econômica submissas ao poder militar norte-americano do que antes da guerra fria.
Em vários países, os americanos trocaram a velha política das ditaduras por governos neoliberais, claramente interferindo em eleições, através dos meios de comunicação de massa e de financiamentos aos políticos que estavam dentro da sua linha de interesse multinacional e transnacional. Notadamente em países com potencial energético e mineral. Quando não consegue o controle político pela via da "democracia burguesa", intervém economicamente com embargos, ou militarmente, promovendo ataques, invasões, sempre com desculpas de ameaças nucleares, armas químicas, terrorismo etc.
UMA NOVA ORDEM GEOECONOMICA COM BELIGERÂNCIA GEOPOLÍTCA
Os Estados Unidos ampliaram suas bases militares em todos o mundo, fortalecendo principalmente o Mar do Japão para continuar controlando o Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Filipinas, no Oriente Médio com maiores bases em Israel e Arábia Saudita, inclusive com bases nucleares em Israel e no Leste Europeu, com forte presença militar na Alemanha, Itália e vários países do antigo bloco soviético nessa região do Leste europeu.
Também observamos que, apesar de o Tratado do Pacto de Varsóvia ter sido dissolvido junto com a desintegração da URSS (1991), a OTAN continuou se expandindo, tendo pulado ao longo dos últimos 30 anos de 12 países aliados para 30, sendo a Europa ocidental e oriental, os territórios com o maior número de membros da OTAN (Mapa de expansão Militar dos EUA):
Fonte: Natalia Sayuri Lara/Maria Clara Rossini/Superinteressante (17/11/2021). https://super.abril.com.br/coluna/oraculo/quantas-bases-militares-os-estados-unidos-tem-fora-de-seu-territorio/:
Esse mapa de 2021 deu conta que são mais de 750 bases militares americanas no mundo, 119 destas bases em terra e mar estão no Japão desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O Japão é um país refém das forças armadas americanas, com Exército, Marinha e Aeronáutica. Hoje, são mais de 45 mil militares americanos dentro do Japão. Será que os países devam ser submissos aos interesses geopolíticos americanos?
Faz 77 anos que as forças militares Norte-americanas estão estacionadas em territórios japoneses, uma espécie de humilhação e retaliação ao povo japonês que lutou contra os americanos durante a 2ª Guerra Mundial, período em que os EUA, lançaram duas bombas atômicas contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki, quando as forças de Hihorito I já estavam rendidas. Os Estados Unidos também impedem que os japoneses desenvolvam forças militares e arsenal bélico de defesa. Os japoneses vivem uma paz forçada e artificial, com seu maior inimigo e agressor vivendo dentro da sua própria casa.
Na mesma região os EUA mantêm 15 bases militares e quase 30 mil militares dentro da Coreia do Sul. Somando esse contingente armado entre Japão e Coreia do Sul, são mais de 130 bases militares e cerca de 75 mil soldados Norte-americanos entre o Japão e a Coreia, fronteiras com a China, Rússia e Coreia do Norte. Esse gigantesco poder militar Norte-americano no Mar do Japão é maior do o que o de dezenas de países países em todo o mundo.
Desde o século XIX, os americanos adotaram uma ideologia e estratégia chamada de "Doutrina Manifesto", na qual acreditam que seja vontade de Deus que os Norte-americanos dominem o mundo. Vejam que na América Latina, são quase todos os países com bases militares instaladas e os que não têm, como é o caso de Venezuela, Cuba ou Brasil e Argentina, sofrem forte pressão militar dos EUA.
No continente africano a região Norte do continente por possuir a maior concentração de petróleo e ser o local em que as grandes multinacionais americanas do petróleo, são territórios com o maior número de bases militares, fechando o cerco com as bases do Oriente Médio, entre o Mar Negro, Mediterrâneo e Mar Vermelho.
Depois da dissolução da URSS, os americanos passaram a acreditar que o mundo se tornou unipolar, e mesmo com o neoliberalismo e a globalização, continuam acreditando que mandam militarmente no mundo. Hoje, pelo menos dez países dominam ou possuem armas nucleares, inclusive com os russos tendo mais ogivas nucleares que os americanos. Esse conflito na Ucrânia, estimulado e provocado pelas forças da OTAN, já dura 8 anos, mas agora, poderá se tornar em algo fora do controle, jogando o mundo no campo das incertezas e imprevistos, pois não mais apenas as guerras convencionais e, com mundo completamente integrado economicamente, com um meio informacional muito desenvolvido e 30 anos de avanços tecnológicos e bélicos, passamos a viver a incerteza e imprevisível na prática (Quadro de potencial nuclear no mundo):
Esse poderoso arsenal bélico nuclear disparado ao mesmo tempo, poderá destruir a Terra e afetar o Sistema Solar. Dito isso, sentimos que o homo sapiens nos levou para um caminho sem voltas. Isso se prevalecer a insensatez humana.
Quando vemos as estratégias geoeconômicas como armas da guerra, começamos a achar que os planos da OTAN estão dando certo. Os irmãos Ucrânia e Rússia se matam, enfraquecem e favorecem as operações do imperialismo norte-americano na região. Enquanto alimentam a guerra, usam o sínico discurso da democracia, pacifismo e segurança mundial. A guerra cibernética, a guerra das sanções o uso das mídias e redes sociais para construírem um discurso de bem e de mal aos moldes da guerra fria, nos coloca diante dos riscos e incertezas são muito grandes.
A Otan já alimenta militarmente as forças golpistas ucranianas em pelo menos oito anos. Ameaça os países europeus para o envio de armas para o território ucraniano, portanto contribuem para o acirramento do conflito e aumentam as incertezas da paz artificial que apenas discursam em suas estruturas de poder e até mesmo em reuniões da ONU. Os Europeus sentiram na pele o que Putin alertava. "A Otan estava levando a Europa para uma guerra sem precedentes". E a arma das sanções econômicas contra a Rússia, atingem de cheio a União Europeia e caso o conflito se estenda, os impactos das sanções prejudicarão profundamente o Euro e a própria estabilidade econômica de toda a Europa.
Pesquisas indicam que as primeiras sanções econômicas foram adotadas pelos gregos desde o século V a.C. Em nada mudou essa ideia. Hoje quando um país quer confrontar ou isolar outro, utiliza essa tática como forma de isolar o país inimigo, com o bloqueio econômico, financeiro e comercial, impedindo que a nação bloqueada não consiga desenvolver suas atividades nem relações manter relações econômicas com outras nações.
Ao longo das guerras dos séculos XIX e XX, todos os países da Europa adotaram sanções econômicas contra seus adversários, ao Exemplo do Reio Unido, França, Alemanha etc. Os Estados Unidos da América do Norte é o país que no último século e neste, mais se utiliza desse expediente, que durante a Guerra Fria se tornou uma das estratégias de isolar os países do Bloco Soviético.
A Rússia, juntamente com os demais países da União Soviética viveram sob embargo econômico do ocidente por 70 anos (1922 a 1992)? Se tem um país que aguenta, bloqueio econômico e chantagem capitalista, chama-se Rússia, quando fazia parte da União Soviética.
Os Norte-americanos lançaram sanções econômicas contra o Iraque, Afeganistão, China, Irã, Líbia, Síria, Cuba, Nicarágua, El Salvador, Venezuela e muitos outros. Mas uma coisa muito importante a ser dita em tempos de neoliberalismo e globalização: qualquer sanção econômica, por mais lógica que pareça, sempre será uma ação com efeitos contrários, que atingem diretamente quem praticou o embargo, afetando também os demais parceiros econômicos.
Nessa nova fase da globalização e do neoliberalismo, há pelo menos dez anos que os Estados Unidos declaram guerra comercial a China, por incrível que pareça, os chineses responderam com a "mesma moeda" e os efeitos negativos ou positivos atingiram não apenas os dois, mais a economia global como um todo.
Para completar, a China e Rússia acabaram de assinar um acordo de amizade sem limites e sozinhos, conseguem se manter apenas com seu mercado interno por séculos ininterruptos. Também é importante relembrar que existem um grande bloco de interesses econômicos que envolvem Brasil, Rússia, Índia; China e África do Sul (BRICS), logo, a depender do desenrolar do conflito Rússia x Ucrânia x OTAN, poderemos ter situações incomodas em relação aos embargos econômicos que os Estados Unidos e alguns países europeus estão lançando contra os russos.
Será que os Estados Unidos, com suas sanções econômicas, conseguirão concorrer com os preços e capacidade produtiva dos chineses, russos e seus parceiros? Será que a criação dessa atmosfera de uma nova guerra fria, patrocinada pela OTAN e EUA vai levá-los para um novo patamar de liderança mundial ou colocará em xeque a própria viabilidade de um mundo globalizado?
Ao listarmos os 7 principais erros dos Estados Unidos em provocarem essa situação de conflito russo/ucraniano, colocaram todo o mundo em alerta que as incertezas de uma guerra, poderão levar o mundo para uma espécie de "lugar nenhum", e diante de potências nucleares, podemos pensar que a humanidade poderá deixar de existir. Entre as dezenas de erros elegemos o jogo dos 7 erros:
1º Expandir a velha OTAN para as fronteiras com a Rússia ou para o Leste europeu, descumprindo acordos do pós Guerra Fria e da dissolução do Pacto de Varsóvia. Esse é o principal argumento russo para justificar os conflitos nas suas fronteiras, ao exemplo da Geórgia e da Ucrânia;
2º Criação de barreiras econômicas semelhantes ao período da guerra fria, afastando a Rússia da economia neoliberal globalizada. Esqueceram que a Rússia lidera a CEI (Comunidade dos Estados Independentes, com 15 países, inclusive a Ucrânia;
3º Criar as condições para que Rússia e China se unam e se fortaleçam em uma Aliança Sem Limites, além de fortalecer o BRICS, a CEI e outros acordos e ações da Rússia no Oriente Médio, América Latina e outras regiões, diferente do momento em que os russos integravam a URSS. Agora a Rússia tem parceiros em todo o mundo e em algum momento irão precisar dos russos e isso gera um verdadeiro cabo de guerra;
4º Provocar situações golpistas na Ucrânia, favorecendo os russos para a anexação da Criméia a Rússia e fortalecimento dos movimentos separatistas pró-russos. por mais que os conflitos provoquem perdas e estragos, como a Rússia é a segunda maior potência bélica e militar do mundo, uma guerra prolongada desestabilizará do o mundo;
5º Encurralar os russos ao extremo. Sun Tzu, no século IV a.C. no livro a Arte da Guerra já alertava: "Nunca deixe seu inimigo sem saídas". Essa situação poderá fazer com que os russos arrastem todo o mundo para um conflito global, total incerteza sobre quem sairá vitorioso de um conflito mundial;
6º Achar que as sanções e os embargos econômicos afetarão a Rússia ao ponto de ela ceder em suas posições geoestratégicas, pois essas sanções contra uma potência, aliada de outra, poderá ser um tiro no pé, ampliando ainda mais a crise econômica do capitalismo global;
7º Criar uma atmosfera de Guerra Fria, para um mundo multilateral, neoliberal globalizado. Um mundo em que as disputas estão em todas as esferas da vida humana, como disse Milton Santos, em um meio técnico-científico-informacional, com pelo menos dez grandes potências dominando partes desse processo e a Rússia é um destes países. Atacar a economia russa é um tiro no pé de economias europeias e até mesmo americana e mundiais.
Uma simples aula de geopolítica sobre essa situação, demonstrará que russos e ucranianos são irmãos eslavos, mas os ucranianos aceitaram o desenvolvimento de um golpe em 2014, patrocinado pelos Estados Unidos e aliados. Faz quase uma década que a Otan pressiona a Ucrânia a abandonar a Rússia. Ou seja, se a OTAN se instalar na Ucrânia, com certeza, será uma tragédia anunciada muito pior e, por aí você começa a entender que a Otan deixou os russos sem saída e sem diálogos com o mundo. E estão fazendo exatos 30 anos em que, Iugoslávia, Polônia, Bulgária, Eslováquia, Eslovênia, todos países eslavos, ou seja, irmãos da Ucrânia e da Rússia, entraram nessa conversa da OTAN. Agora, devem perceber que podem ter feito um mal negócio pois viram reféns dos interesses das potências militares do período da guerra fria.
Todos esses países, que eram membros da EX-URSS estão envolvidos com os interesses da Otan atualmente, aumentando as tensões e a desconfiança de todos. Os estudos geográficos indicam diferentes manobras midiáticas, enquanto a OTAN, Estados Unidos, Reino Unido, França e outros fazem dezenas de guerras no mundo, mas como são contra países pobres da África ou do Oriente Médio, tudo é abafado pela grande mídia. Só no Afeganistão, passaram 20 anos e a situação do pais ao invés de melhorar, piorou ainda mais.
A Ucrânia é vítima sim, mas não apenas da Rússia, melhor dizendo, aceitou essa situação desde 2014, quando deixou que um golpe político fosse praticado dentro do seu território, quando grupos neonazistas e neofascistas ou extremistas de direita incendiaram Kiev e criaram um governo golpista, depois elegeram um comediante ou humorista da TV local para presidente, que desde então, passou a flertar com a OTAN e a atacar grupos separatistas de minorias russas no leste do país, com mais de 3 mil mortes nestes últimos 8 anos de conflitos que já estavam em curso no país.
Os americanos, ingleses, franceses, italianos e alemães colocaram a Ucrânia nessa situação, poderiam fazer algo mais concreto, que apenas promessas vazias. Não querem mandar tropas, apenas armas. Por quê? A estratégia da OTAN é exatamente essa, vê os russos e ucranianos se matando e se destruindo, como aconteceu na Iugoslávia (destruída e dividida em oito países), pois só assim eles conseguem cumprir seus objetivos na região.
A OTAN liderada pelos norte-americano levou a Europa para uma guerra, assim, “cutucou o URSO (Rússia) coma vara curta”. Será que vão aguentar as consequências desse conflito? Enquanto isso, para onde caminha a humanidade? Onde estão as massas exploradas cotidianamente, com grandes oligopólios e monopólios capitalistas explorando as riquezas do planeta, com o suor do proletariado internacional?
____________________.
* Professor Belarmino Mariano é doutor em Sociologia, Mestre em Meio Ambiente, Especialista em Geografia Territorial e Licenciado em Geografia. Professor de Geografia Política, Geopolítica e Teoria da Geografia pela UEPB.
Texto republicado pelo autor - https://radicaislivreseco.blogspot.com/2022/03/geopolitica-ou-globalizacao-interrompida.html
Belarmino Mariano Neto
Antiquários envelhecidos arquitetam o olho do tempo, revestindo suas dependências de enigmas como se as soleiras do portal fossem amalgamas para uma ordem ou missão dos templários. Os antiquários são territórios do vivido, das memórias, das lembranças, dos esquecimentos e da senhora que pede passagem para o grande mestre que a todos consome.
Posso ver aquela mulher sentada na soleira da porta de entrada do velho casarão aparentemente desabitado. Uma construção do começo do século passado, com varandas semiabertas, sustentadas por oito grossas colunas e quatro grandes janelas de madeira maciça pintadas com um verde envelhecido e que emolduram a parede da frente do casarão.
Os seus pés descalços tocam o piso do terraço, piso de um mosaico quadriculado em tons branco e vermelho muito desgastado. A porta também de madeira maciça e entreaberta representa um umbral com tons esverdeados e camadas descascadas de um azul interno, indicando sobreposição de uma pintura há muito tempo encoberta pelo verde sem vigor, muito mais fuligem, mofo e poeira, que a própria tinta.
Ela é a guardiã do templo e senhora do tempo. Uma mulher branca e manchada de sardas guarda em si o véu da virgindade sem maculas. Aparenta uns noventa e sete anos vividos, com os quais demarca o ritual de passagem pelo portal para adentrar o casarão dos seus próprios sonhos.
Pelo transparente e fino tecido de suas vestes, notei em seu corpo, uma gigantesca e enrugada tatuagem que representa a cartografia do desejo e as rotas da solidão. As linhas, as curvas e o sinuoso entrecruzado das mesmas, espalham-se pelos seus ombros, abdômen e costa, representando sentidos de subterrâneos sem começo, sem meio, nem fim.
As linhas da tatuagem cartografada em seu corpo, escorrem por todos os lados das suas coxas e pernas. Em tons de azul envelhecido, a finura das linhas tatuadas na sua pele, disputa espaço com o fino tecido do tempo, indicando sentidos desconexos, como se fossem garatujas de um passado distante. Escritos inelegíveis, configurações divergentes e sem pontos de partidas, confundem o sentido da visão.
Dos bicos dos seus seios, escorrem ideias de montanhas sulcadas e desgastadas pela erosão dos olhares masculinos e na couraça da sua pele, desnudam sinuosidades enrugadas que lembram rios intermitentes com intensa lixiviação.
A mulher em sardas, esconde em seu dorso símbolos e enigmas de um mapa desenhando e legendado por códigos desconhecidos. Talvez representando uma língua morta ou traçados feitos para confundir os aventureiros, encantando-os para sempre em um cego tatear de estrelas que já não existem mais. Observando o mapa de sua pele, percebi a existência de trilhas apontando para recônditos lugares e vazios abismáticos.
Em um suave e lento movimentar das suas mãos, observei o traçado de uma vida de longa solidão em seu destino. Uma vida de nevasca eterna, de fina e invisível areia escorrendo por entre os seus dedos delicados. Enroscados pelos seus antebraços, vi a figura de dois dragões sobrevoando sua alma, sua calma e sua alegria. Nos seus braços, duas serpentes alimentam-se da espera e do imprevisível. E, entre as cobras e os dragões, uma sequência de desenhos tribais, como se representassem uma dança de imagens solares e lunares rodopiando pelo vazio enigmático do seu olhar.
Em seu corpo, uma cartografia de desenhos, arranjos e relações encobertos por pesadas camadas do tempo. Um tempo esfíngico mistura carne e pedra, dando forma à envelhecida mulher sentada na soleira daquele lugar. Naquele canto da casa, na porta de entrada. Ali, ela repousa o corpo na forra do portal e pelo clarão da manhã percebi que o casarão se encontra totalmente destelhado, sem linhas, caibros e ripas.
O Céu com sua abertura de luz e atmosfera nua tocam os cantos do terraço do casarão e algumas colunas, inclinam suas sobras sobre as paredes envelhecidas do espaço oco. Num jogo fotográfico de luz e sombra, nuvens cinza cruzam o ilusório céu azul e, seguindo a rotação da Terra espalha sombras suaves pelo mosaico desgastado do terraço, marcado com invisíveis pisadas não se sabe de quem.
Por todo o seu corpo feminino, estão esculpidos os sulcos do tempo, manchas solares e cicatrizes de amores desfeitos, escombros de paredes descascadas em suas dezenas de camadas de tintas. O tempo escorre profundas rugas pela sequidão diária do seu corpo e nas entranhas de sua pele uma marca cicatrizada indica a cratera de uma grande queimadura que brota na altura do seu coração.
Esta mulher é o casarão habitado por ela própria. Sua carne se mistura com a pedra e o barro da construção, em uma cartografia de sentimentos e vazios que dão sentido à vida envelhecida. Seus olhos esverdeados e pesados marejam um olhar em sua face nua e o verde apagado da porta entreaberta lhe permite pedaços de sentidos de um olhar distante e vazio de presenças.
Com os últimos raios do sol, desce o anoitecer e ela levanta-se da velha soleira, entra no casarão destelhado e fecha a porta na própria face, levando consigo o que restava do tempo. Sem luz, o brilho esverdeado dos seus olhos, perdeu de ver de vez o que talvez não veja jamais.
____________________
Texto original apresentado ao Clube do Conto da Paraíba, 23 de setembro de 2006.
Publicado no < https://essencialismo.blogs.sapo.pt/1467.html >. Domingo, 24 de setembro de 2006.












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fotos postadas por: Ebenezer Saint
Um filme de terror real, que poucos fazem questão de assistir..
Fuga de refugiados de trípoli e países da africa para a Europa...Agosto de 2015.



fotos postadas por: Ebenezer Saint
https://www.facebook.com/ministerioebenezersaint

Fonte: www.brasilescola.com
Por: Belarmino Mariano Neto
Será que o conceito de oligarquia ainda se aplica aos dias atuais? É o que vamos analisar a partir de uma realidade objetiva, o município de Guarabira, considerando seu legado político e administrativo dos últimos 70 anos. Será que existiram e/ou ainda existem oligarquias em Guarabira? Como a região é permeada pelo mundo rural, será que as oligarquias rurais deram a base para que novas oligarquias se instalassem no poder, reproduzindo novas relações?
Primeiramente vamos dizer de qual lugar estamos tratando nesse artigo. Em pesquisas realizadas sob minha orientação, a acadêmica de Geografia, CLAUDETE PEREIRA DO NASCIMENTO, realizou duas pesquisas que se complementam, entre a graduação e pós-graduação pela UEPB, entre os anos de 2006 a 2009, sobre a dimensão territorial de Guarabira em sua microrregião e os recortes espaciais que representaram desmembramentos, fragmentações e novas municipalidades.
O foco com a pesquisa, também abarcou o “mito geográfico” de que Guarabira em sua microrregião estivesse localizada no Brejo paraibano, um erro que é propagado há décadas e por que não dizer, há séculos, inclusive pelos meios de comunicação. Nesse ponto, começamos a dizer que Guarabira, nunca foi e nem será Brejo.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), o município de Guarabira/PB está situado em uma área de transição na Depressão Sublitorânea do Agreste paraibano, entre a Serra da Borborema e os tabuleiros litorâneos, com altitude média de 98 metros, com altimetrias superiores a 200 m. do nível do mar.
É nessa região serrana, com vales e depressões que iremos discorrer sobre o conceito de oligarquias, considerando o Dicionário Formal em que o termo possui uma classificação morfossintática: substantivo, feminino singular,
Oligarquia: Significa, literalmente, governo de poucos. No entanto, como aristocracia significa, também, governo de poucos - porém, os melhores -, tem-se, por oligarquia, o governo de poucos em benefício próprio, com amparo na riqueza pecuniária. As oligarquias são grupos sociais formados por aqueles que detêm o domínio da cultura, da política e da economia de um país, e que exercem esse domínio no atendimento de seus próprios interesses e em detrimento das necessidades das massas populares (http://www.dicionarioinformal.com.br/oligarquia/).
Vera Texeira Soares (1979), publicou uma importante obra, intitulada Coronelismo e Oligarquias, analisando o período de instalação da primeira República (1889 a 1934). Nesse caso, vale destacar que foi um período em que regiões e localidades municipais, tinham seus administradores escolhidos por indicação dos governadores, e recebiam uma nomeação como “intendentes”, com poderes até certo modo, de caráter militarista e administrativo. Esse período ficou conhecido como a era dos coronéis. Quem eram eles? As figuras de poder, que respondiam pelos interesses do seu grupo político. Como eram grandes proprietários rurais, com latifúndios que em muitos ultrapassavam áreas territoriais, às vezes maiores do que um único município, estes eram revestidos de um poder, quase que ilimitado.
Quando em suas terras existiam atividades econômicas de manufatura ao exemplo de engenhos, ou eram grandes fazendas de gado, ou produção de monoculturas como a cana-de-açúcar, algodão ou agave, estes grandes proprietários, conseguiam interferir politicamente em toda uma região, influenciando diretamente em uma escala macro política estadual e até em nível nacional. Nesse período eram comuns os esquemas de compra de voto, voto de cabresto e todo tipo de corrupção e repressão extremamente antidemocrática, contra as forças políticas de esquerda que se colocassem na contra hegemonia do sistema oligárquico.
Abro um parêntese para memorias dos meus irmãos mais velhos, José Belarmino e Raul Belarmino, eles contam uma história interessante: quando meus pais (já falecidos) viviam no Vale do Pajeú, em Pernambuco, meu pai Mariano Belarmino analfabeto, minha mãe Gessi Costa, alfabetizada nas primeiras séries, apenas ela podia votar. Morávamos em terra alheia e tínhamos por obrigação (voto de cabresto) votar nos candidatos do dono da terra. Depois da eleição, meu pai foi intimado à fazenda, pois o proprietário ficou sabendo que minha mãe havia votado noutro candidato. O fazendeiro questionou meu pai e ele disse que a sua esposa havia votado no candidato que ela achava melhor e que ele não se metia em quem ela votava. Então o latifundiário, deu um prazo para meus pais saírem de suas terras. Ele deixou o chão com uma boa plantação de milho, feijão e teve que retirar as poucas cabeças de gado e rebanho pequeno de cabras.
Esse comentário reflete a exata política das oligarquias rurais em todo o Brasil e no Nordeste, além do “voto de cabresto”, as pessoas viviam reféns de um espaço controlado pelos latifundiários e nas cidades, os grupos políticos eram também atrelados aos fazendeiros locais. Impedindo que outas forças de esquerda ganhassem espaço na cena política. Será que ainda existe esse tipo de relação nos dias atuais? Como muitas pessoas passaram a viver em cidades, sem emprego para todos, com boa parte dos cargos públicos controlados pelos grupos políticos e a falta de concursos públicos, os contratos de trabalhos em serviço público, são um novo tipo de “cabresto político”, em que, para se conseguir algum contrato, se é obrigado a assumir os interesses políticos daquele grupo que esta no poder.
AS OLIGARQUIAS NA PARAÍBA E EM GUARABIRA
Se considerarmos as devidas escalas espaciais, e teóricos como Michel Foucault, em Microfísica do Poder (1982), mesmo que o autor não trate diretamente da questão, mesmo assim veremos que as oligarquias estão estruturadas nos estados e municípios que compões a estrutura territorial do Brasil. No caso de Guarabira a situação se aplica facilmente. Pois existem modelos exemplares de famílias que durante décadas se revezam no poder político local, controlando as estruturas de poder para si e para os seus mais próximos, em que a prefeitura é um exemplo do “panoptico”, de onde os oligarcas controlam a tudo e a todos.
Temos importantes historiadores como Cleodon Coelho (1975) e Moacir Camelo de Mello (1999), que tratam diretamente da História de Guarabira, mas existem muitas lacunas, quanto às questões de disputa e controle oligárquico das famílias locais, ressaltando muito mais o papel de valorização dos fundadores da cidade, sem uma preocupação com os interesses políticos e as disputas de poder, dentro de uma lógica elitista e conservadora de valores. De maneira que um leitor desavisado, pode construir uma ideia falsa da realidade histórica da fundação e desenvolvimento local.
Historiadores mais atuais, como Martinho Alves e o professor Josias, tentam em seus blogs e até em livros, reconstituir a história de Guarabira, em alguns casos elencando novos indícios de atuação políticas de alguns grupos, em Martinho Alves, faz um resgate biográfico patriarca Antônio Roberto Paulino. Já o historiador, José Octavio de Arruda Melo (1994, 1993 e 1997), consegue em suas diferentes obras, discutir as questões urbanas e dos grupos familiares que se reversavam no poder, inclusive em Guarabira e região.
Vale salientar que o modelo colonial brasileiro foi fundamentado historicamente para que esse sistema oligárquico se tornasse a base de controle dos espaços de poder, de cultura, economia, justiça e, dos meios de comunicações, quase que hereditariamente, tendo sofrido pequenas alterações entre o colonialismo de exploração, imperialismo regimental (monarquia) e períodos republicanos. Nesse ultimo, foi colocado um pouco de fermento da ideia de “democracia torpe”, balizada pelo poderio econômico de algumas famílias, pois a grade maioria dos partidos políticos segue esquema oligárquico, ou seja, controlados por famílias tradicionais.
PRIMEIRA REPÚBLICA, OLIGARQUIAS E POPULISMO NA PARAÍBA E EM GUARABIRA.
De acordo com arquivos do TSE sobre o histórico dos processos políticos e eleitorais brasileiros,
Em 15 de novembro de 1889 tem fim o período imperial brasileiro, com a proclamação da República. A mudança na forma de governo, no entanto, não significou, verdadeiramente, a instituição de um regime político verdadeiramente democrático e livre das influências do poder econômico (http://jus.com.br/artigos/12872/historico-do-processo-eleitoral-brasileiro-e-retrospectiva-das-eleicoes#ixzz3jNp5Nprm).
Nessa perspectiva conceitual historicamente representada, vale registar que, os governos municipais, foram durante décadas indicados pelos governadores como intendentes, entre os anos de 1889 a 1929. Estes assumiam o executivo com o papel de administrar as cidades, com poder de mando policial, administrativo e tributarista. Eram conhecidos como Intendentes.
Nessa época, Guarabira registrou quatro importantes famílias oligárquicas que se revezaram no poder (Pimentel, Aquino, Guedes e Bandeira) que iniciaram o poder de mando sob uma base territorial que encobria toda uma região constituída por municípios como a sede (Guarabira), distritos e povoados como: Pilõezinhos, Araçagi, Pirpirituba, Cuitegi, Alagoinha e Mulungu que se emanciparam politicamente depois dos anos de 1960. Além dessas importantes famílias, outros grupos familiares se revezaram no poder, de acordo com os interesses dos governados da Parahyba. Na atualidade ainda é possível encontrarmos alguns desses sobrenomes familiares, entre os grupos que se revejam no poder local?
OLIGARQUIAS E POPULISMO NA ERA VARGAS
O período que compreende a era Vargas (1929 a 1947) foi muito conturbado em relação às eleições e os prefeitos eram nomeados pelos governadores que eram escolhidos indiretamente. Entre esse período, novamente tivemos como destaque a frente do poder executivo, como maior exemplo a família Aquino, com vários mandatos, apesar de não terem sido sucessivos em todos os momentos, além dos Guedes e Pimentel. Como podemos observar, as nomeações estavam relativamente atreladas ao poder de mando dos governadores que precisavam das famílias mais poderosas de cada região do Estado para garantia de sua governabilidade, atribuindo-lhes poderes e a ocupação dos diferentes cargos públicos aos familiares em uma nítida troca de favores e benesses.
Melo (1994) destaca em seu livro História da Paraíba: lutas e resistências, que um dos mais fiéis representantes das oligarquias rurais paraibanas, foi o interventor Argemiro Figueiredo (1936 - 1940), sua principal base de apoio foi o grupo da várzea, tanto do rio Paraíba como do vale do Mamanguape.
Se pensarmos em governadores ou interventores da Paraíba, vale registrar que em todo o período republicano, se destacaram mais de vinte (20) oligarquias, que se espalharam pelo Estado da Paraíba, e interferiram diretamente em algum momento da História política paraibana, entre elas: Almeida; Andrade, Aquino; Araújo; Pessoa;Bandeira; Borges; Braga; Brito; Cabral; Carneiro; Cavalcante; Coutinho;Cunha; Dantas; Leal; Lima; Lins; Lucena; Miranda; Melo; Moreira; Odilon; Paulino; Pimentel; Rego; Ribeiro; Targino; Toscano; Vasconcelos; Veloso; entre outras, com destaque em negrito para as que influenciaram na formação oligárquica de Guarabira. Vale registrar que muitas dessas famílias se uniram através de matrimônios, entre os filhos/as, o que representava a ampliação das possessões territoriais tipicamente latifundiárias.
Outras famílias chegaram à Paraíba através dos Estados de Pernambuco ou do Rio Grande do Norte, influenciando tanto em áreas rurais, como em atividades urbanas na capital ou em centros urbanos polarizadores mesorregionais, entre o Litoral, Agreste, Borborema e Sertão, além de microrregiões (Cariri, Brejo, Seridó e Curimataú). As atividades rurais, atreladas às manufaturas e ao comércio fez com que a política paraibana irradiasse seu poder para as classes dominantes.
Ainda da Era Vargas, vale destacar que as oligarquias uniram ao seu espeço de poder, práticas populistas de atrair eleitores e apoiadores para os seus projetos políticos de sustentação e governabilidade. Melo (1994) considerou que o populismo como uma espécie de estratégia de poder, não restrito ao Brasil, pois em outros países como a Argentina com Juan Domingos Peron (pós 1929) e no Brasil com Getúlio Vargas (1930). Na Paraíba ele afirma que Ruy Carneiro interventor (1940-1945) foi o melhor exemplo de oligarquia populista, posteriormente seguido por dezenas de outros governadores e prefeitos, em especial nos centros urbanos maiores como João Pessoa; Campina Grande; Patos; Guarabira; Cajazeiras; Areia; Itabaiana; Mamanguape, entre outras áreas.
OLIGARQUIAS E POPULISMO LOCAL NA ERA DO VOTO E DA TORPE DEMOCRACIA
Outro importante período político para os municípios foram às décadas entre 1948 até 2015, pois os prefeitos eram escolhidos por eleições diretas, com disputas acirradas entre as oligarquias locais. No estudo de caso sobre Guarabira, considerando que a maioria dos municípios circunvizinhos fazia parte de um único colégio eleitoral, esse período foi marcado inicialmente por disputas familiares entre os Aquino e Pimentel e posteriormente entra no jogo político a Família Paulino e Toscano, como sendo um novo ramo oligárquico, fruto de uniões familiares entre Aquino/Paulino e de abertura de espaço político dos paulinos aos toscanos.
Nesse período também teremos importantes movimentos urbanos, mais independentes dos traços oligárquicos, mas durante décadas sem muito sucesso, pois o poder econômico e de mando era quase que inabalável. Então, para que um profissional liberal chegasse ao poder, precisava está ligado familiarmente a uma oligarquia local. Então, para além do populismo e do conservadorismo das elites agrárias, alguns dos seus filhos com ares de modernidade, chegaram a atuar na política, arejando em algumas cidades a perversa lógica autoritária, impetrada pelos militares e uma oligarquia populista.
Outras oligarquias comandaram a política em períodos distintos, sob a liderança de políticos individuais, como Ernani Sátiro (Patos), Ivan Bichara (João Pessoa), João Agripino maia (Catolé do Rocha), ou sob a liderança de famílias como Pereira (Pombal), Ribeiro Coutinho (Santa Rita) e Veloso Borges (Alagoa Grande). (MELO, 1994).
Além dos exemplos, também tivemos a situação em que algumas figuras históricas da política paraibana, mesmo com forte influencia oligarca, seguiram um pouco da ideologia de esquerda, como Osmar de Aquino (Guarabira); Agassiz Almeida (Cariri paraibano) Abelardo Jurema (João Pessoa) e Vital do Rêgo (Campina Grande). Estes políticos foram diretamente perseguidos pela Ditadura militar e tiveram seus mandatos cassados. É importante dizermos que estamos apenas tratando de questões relativas às oligarquias, o que não caberia uma análise sobre as esquerdas paraibanas, foco de resistência contra as tradicionais famílias oligarcas e populistas ou que todos os citados fossem de fato esquerdistas.
GUARABIRA: FAMÍLIAS OLIGARCAS NA ATUALIDADE
Apesar das duras críticas que alguns grupos tentam jocosamente relacionar as atuais oligarquias locais, como os Paulinos e os Toscanos, vale registrar que no caso da oligarquia dos Paulinos, esse grupo familiar, tenha até certo ponto substituído a família Aquino ou herdado seu legado político para os dias atuais, pois se trata de um grupo familiar muito jovem na história política local, tendo uma maior tradição oligarca no vizinho Estado de Pernambuco.
Destacamos um momento político em que apesar da ditadura militar, os paulinos se colocavam em um campo oposto ao das famílias Pimentel, pois optaram politicamente pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) crítico da ditadura militar, talvez por herança da oligarquia dos Aquino, também fortemente atreladas ao campo de defesa e assistencialismo as classes populares mais pobres, adquirindo importantes dividendos político-eleitorais e herdando um pouco do populismo assistencialista da época. Enquanto que o grupo político da família Pimentel estava atrelado às forças conservadoras da antiga Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido de sustentação da Ditadura Militar, ao qual também estiveram ligados representantes familiares das oligarquias Bandeira e Amorim. Isso não vale para todos os membros familiares, pois alguns dos políticos, dependendo da formação profissional como o jurídico, também adotaram o assistencialismo em suas estratégias para chegar ao poder.
Como grupo político de oposição aos governos militares, o MDB, posteriormente PMDB, conseguiu com a Oligarquia local dos Paulinos, eleger sucessivos prefeitos, desde Antônio Roberto Paulino (MDB - 1977-1982); Zenóbio Toscano (PMDB - 1983-1988); Antônio Roberto Paulino (PMDB - 1989-1992). Perdeu a eleição para Jader Pimentel que havia trocado a ARENA pelo Partido Democrático Brasileiro (PDT – 1993-1997), uma versão crítica do antigo regime militar e ligado nacionalmente ao Leonel Brizola, que era governo gaúcho e havia sido perseguido pela ditadura militar, com perda de mandato e exílio político.
Uma nova situação politica se fez com a eleição de Maria Hailéa de Araújo (Lea) Toscano (PMDB/1997-2000 e de 2000-2004), primeira mulher eleita e reeleita para a prefeitura de Guarabira, com o total apoio dos paulinos. Depois de 2001, com o rompimento das oligarquias Targino Maranhão e Cunha Lima (PMDB) em escala estadual, essa cisão afetou as relações oligarquias também em Guarabira, pois os toscanos também rompem com os paulinos e seguiram o grupo Cunha Lima que entraram no Partido Democrático Social Brasileiro (PSDB).
Na sequência de disputa pelo poder municipal, o grupo Paulino elegeu Maria de Fátima de Aquino Paulino (PMDB – 2005-2008 e 2009-2012), eleita e reeleita, tornando a oligarquia Paulino/Aquino a que mais governou o município de Guarabira, desde a época das intendências e nomeações indiretas, até os dias atuais. Se fizermos um quadro das oligarquias dos Aquino e Paulino, juntos somam duas décadas de domínio da política de Guarabira (Quadro 01):
QUADRO 01 – PRINCIPAIS OLIGARQUIAS DE GUARABIRA NO PODER
OLIGARQUIAS | PERIODOS À FRENTE DO PODER EXECUTIVO | DURAÇÃO NO PODER |
AQUINO | 1921/1923; 1940/1942; 1946/1947 e 1955/1957 | 11 anos |
PIMENTEL: | 1912/1915; 1946/1946; 1963/1969; 1973/1976 e 1993/1996. | 20 anos |
PAULINO: | 1977/1982; 1989/1992; 2005/2008 e 2009/2012 | 12 anos. |
TOSCANO: | 1983/1988; 1997/2000; 2001/2004 e 2013/2016 (atual) | 13 anos |
Fonte: Organizado pelo autor, a partir de dados históricos referendados.
Das quatro principais oligarquias que já governaram Guarabira e ainda possuem remanescentes familiares nos governos e no poder legislativo local, se juntarmos as famílias Aquino e Paulino, em função das ligações familiares matrimoniais, chegaremos a mais de duas décadas. Outro aspecto a considerar é que se caso os toscanos indiquem alguém da família para Sucessão de Zenóbio Toscano, em sendo eleito/a, os toscanos poderão atingir 17 anos no poder. Para evitarmos imagens pessoais, optamos por expor aqui apenas os brasões das famílias, em respeito ao legado histórico, independente das posições de poder que alguns membros assumiram em diferentes momentos da vida política local (Figuras de brasões):
Para fazermos justiça histórica aos políticos de Guarabira, a família Pimentel foi a que mais tempo passou no controle do poder executivo local e se consideramos as alianças políticas feitas entre essas oligarquias como garantia de poder paralelo e parcial, todas as oligarquias já se misturaram para governar em uma verdadeira política de revezamento dos grupos. Uma sincronia que até parece combinada, onde as brigas históricas entre as famílias existem como uma espécie de “teatralização política”, da qual o povo participa como massa de manobra, torcida organizada, que trabalha nas eleições em troca de migalhas ou favores políticos, com um carguinho de 5º escalão nos órgãos públicos municipais, que respingam diretamente em órgãos do governo estadual, caso um dos grupos seja aliado direto do governador de plantão.
E importante registrarmos que a oligarquia dos Toscanos é muito tradicional e forte em várias regiões do Brasil, oriunda de território italiano da região Toscana em termos políticos é muito nova em Guarabira, aparecendo no cenário político basicamente por intermédio da Oligarquia Paulino, com o racha entre as duas famílias por volta de 2001, os paulinos dão a entender que houve uma traição política dos toscanos ao grupo do PMDB. Esse argumento é facilmente intendido em entrevistas do Ex-governador Roberto Paulino ao afirmar que os toscanos só governaram Guarabira, depois que tiveram o apoio dos paulinos e dentro do tradicional PMDB, partido que elegeu o maior número de prefeitos do período democrático e por eleições diretas e pela “vontade popular”, como argumenta o político Roberto Paulino.
É importante registramos que vários políticos ligados a estas quatro oligarquias, já chegaram a assumir mandatos parlamentares na Assembleia Legislativa estadual, Câmara Federal e no caso do Ex-governador Roberto Paulino, que foi o político local que atingiu o maior cargo executivo, como Vice-governador e depois assumiu o cargo de governador, na chapa do também ex-governador José Targino Maranhão (PMDB – 1999 a 2002). Outro exemplo de influencia em governos estaduais foi o do Deputado Estadual Zenóbio Toscano, que chegou a assumir a Secretaria de Infraestrutura da Paraíba, durante os governos de Ronaldo Cunha Lima, Cássio Cunha Lima e no primeiro governo de Ricardo Vieira Coutinho, chegou a assumiu a direção da Empresa Paraibana de Gás (PBGÁS). Isso demonstra que o poder local sempre esteve de certo modo, atrelado aos interesses estaduais, em que as famílias sempre ocupam importantes cargos, não apenas na esfera municipal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Feita essa exposição histórica acerca dos grupos oligárquicos que já estiveram no poder local, ou estadual, bem como, alguns ainda permanecem claramente no controle da vida pública local, gerenciando milhões de reais em recursos dos tesouros: nacional, estadual e municipal, justifica o quanto esse jogo político superficialmente democrático, aparentemente festivo e de uma disputa do jogo democrático, em que poucos são os escolhidos para participar da festa, impede que outras forças políticas se aproximem da gestão pública local. O que de fato esta em jogo, não é o controle administrativo de uma prefeitura, existem muitos mais e maiores interesses em jogo.
Grupos empresariais financiam as campanhas milionárias para um prefeito e vice-prefeito, milhares de reais são gastos para uma simples candidatura de vereador, em que, sempre estão colocados entre os 10 ou 15 primeiros lugares, alguns sobrenomes familiares ou algum candidato completamente comprometido com essa ou aquela oligarquia, com esse ou aquele grupo político estritamente oligárquico. Raros são os candidatos de dentro da população pobre, raros são os eleitos que pertencem a uma classe de trabalhadores.
Cria-se uma falsa ideia de que se trata de uma política apaixonada, como se fosse uma cultura de cordões azuis e encarnados, disputando a simpatia do público em uma festa religiosa de “Lapinha”. Ou algo como o bumba meu boi da Ilha de Parintins (Amazonas), em que um é garantido (vermelhão) e outro e caprichoso (Azulão), disputando as melhores fantasias, alegorias e passes de danças.
Se quiserem outras alegorias, vamos para torcidas de futebol, em que os times, Flamengo X Vasco, se enfrentarão em uma partida clássica no Maracanã. Então, se estabelece uma ideia de “rivalidade sadia” entre os torcedores, abre-se uma bolsa de apostas populares, em dinheiro, objetos de valor e até mesmo animais de estimação são colocados nas apostas, em que são apresentados placares em número de votos que cada candidato poderá obter.
Talvez em uma analogia mais infantil, podemos pensar em um “cabo de guerra”, em que os dois grupos esticam a corda ao máximo de suas forças para ver quem consegue desestabilizar o outro, dentro de uma arena delimitada por um risco e, perde o grupo que se desequilibrará. Nessas horas, vale xingamentos, provocações, empurrões e todos os tipos de manobras e astúcias que cada grupo tiver em mãos para usar contra o seu oponente.
Terminadas todas estas "brincadeiras", com as coisas sérias da vida pública com essas disputas, o grupo vencedor passa de 4 a 8 anos fazendo quase nada que beneficie o público, arruma todo tipo de vantagem para os seus familiares e aliados próximos.
O Grupo perdedor se resigna a esperar, pois sabe que também chegará a sua vez. Sempre que pode, usa seus aliados inconformados ao denuncismo, às críticas e muitas vezes aos ataques pessoais, se possível através de algum meio de comunicação, que pertence aos mesmos grupos que disputaram aquela brincadeira de ganhar ou perder a eleição.
Nos quatros cantos da cidade, iremos ver lamentações e defesas. Um grupo ataca o eleito e lamenta a falta de obras, a falta de cuidados com a cidade e os cidadãos. Do outro lado, aqueles que receberam um carguinho qualquer ou tem algum familiar “mamando” e sem concurso em alguma repartição, defende com “unhas e dentes” aquele gestor de plantão.
Sempre aparecem aqueles que aparentam neutralidade para defender a tese de que isso nunca mudará, de que o povo é o culpado por esse jogo político, etc. e tal. Que as pessoas se vendem por um saco de cimento, ou por um milheiro de tijolos e que os vereadores são todos uns "paus mandados". As críticas e comentários não passam dessa falácia lamentável.
A questão central agora é entendermos que, o povo não é e nunca foi culpado pelo que acontece na política local. Na verdade, existe uma longa história de compra de votos, de voto de cabresto e de votos assistencialistas, instituída pelas oligarquias brasileiras há séculos. Um esquema de falsos favores, de falsas promessas e apadrinhamentos temporários que impedem as pessoas de um amadurecimento mental sobre as questões políticas as quais estão atrelados.
Se o poderio econômico das oligarquias funciona há séculos, se existe um verdadeiro aprisionamento das pessoas, pois cargos de baixo escalão, em troca de misero salário e da fidelidade política aquele oligarca no poder, como se libertar desse jogo sujo e de azar, pois ao final o povo sempre sai perdendo?
Abro um parêntese para a ideologia de que perder nesse jogo é algo inaceitável para os eleitores menos esclarecidos. Como me disse um dia desses o poeta e músico Arthur Silva, as pessoas estão tão presas a esse esquema perverso que não querem votar naquele candidato que acham que vai perder e, na maioria das vezes, perdem por votar naquele candidato que distribuiu mais dinheiro, mais tijolos, mais feiras, mais remédios, mais “promessas”, mais “santinhos”. Então, o perder nesse caso é matematicamente simples. Tudo aquilo que o político corrupto deu em troca do seu voto, ele vai tirar triplicado, pois terá que dividir com esse ou aquele empresário corrupto, que financiou a campanha do político vitorioso.
O preço para esse tipo de politicagem é bastante elevado, pois em todas as eleições são três ou quatro meses de festa e quatro anos de lamentação, de falta de investimentos na coisa pública, de denuncias e escândalos, por desvio de dinheiro, por contratações e licitações irregulares, com obras superfaturadas, com serviços públicos de péssima qualidade, entre milhares de outras mazelas que a cena política local representa para a grande maioria dos eleitores, que não é total, pois uma minoria se deleita com os recursos e espaços de poder republicanos conquistados pela lógica da corrupção.
O desafio é superarmos essas contradições, dando um salto mental em nossos atos cotidianos. Vamos começar a pensar que os 15 vereadores do município de Guarabira precisam assumir o compromisso com o povo que votou nele. Com a população, pois foram eleitos para fiscalizar o executivo, para cobrar do executivo, para apresentar projetos e exigir que o prefeito execute as obras previstas. Os vereadores foram eleitos para legislar em causa do povo, nunca em causa própria. Então meus camaradas, nesse quesito, precisamos fazer uma limpeza geral nessa Câmara de vereadores, pois do contrário não adianta trocar de prefeito, esse jogo de azar de tirar um vermelhão e botar um azulão ou vice versa, de nada adianta com uns vereadores comprometidos apenas com os seus interesses e os interesses do prefeito que se elegeu, como faz a sua família há décadas.
Para vereador é preciso votar em pessoas ou partidos que não estejam nesse esquema viciado, então, não vendam os seus votos para vereador por dinheiro nenhum, pois vereador que sai comprando voto é bandido da pior espécie. Quando chegar à Câmara, vai armar uma quadrilha, com outros para extorquir o prefeito, em troca da aprovação de projetos, logo, fica preso aos interesses daquele oligarca da prefeitura.
Se o cara vier comprar seu voto, e se você for corajoso, grave, filme e entregue uma cópia para a justiça eleitoral. Se não tiver essa coragem toda, “você já sabe o que fazer”, para que ele não possa comprar o voto de outro eleitor. Têm candidato a vereador que nessa época se traveste de Santo, de religioso, mas depois de eleito, só atende as demandas exclusivamente familiares, assessorias e cargos dos melhores é pra família, às vezes deixa de fora até os seus mais fieis cabos eleitorais.
Atentos, pois alguns são empresários travestidos de democratas e populares, compra seu voto e depois que você precisa de uma ação em defesa da sua comunidade, da sua classe, ele lhe diz logo, - “O que eu podia lhe dá já dei na época da eleição”. Nesse caso, escolha vereadores de sua classe social e de partidos que sejam independentes, que não entrem em coligações alimentadas com o desvio de dinheiro público.
Quanto aos candidatos para prefeito, veja a história dos candidatos, conte quantas vezes ele já foi prefeito, quantas vezes a mulher dela já foi prefeita, o filho ou a filha dele já foi prefeita, ou vereador/a, ou deputado/a. Às vezes aparece um genro ou uma nora dele se passando por novidade, até mesmo um fiel assessor de longas datas, pois existe um limite de dois mandatos por família, exatamente para evitar vícios e esquemas de corrupção.
Tomadas estas precauções, não preciso lhe dizer mais nada, pois todos estes prefeitos ou prefeitas e familiares que já passaram pela prefeitura de Guarabira, fizeram péssimas ou fracas administrações. Digo sem medo de errar, pois as obras que por aqui aparecem, foram feitas diretamente com recursos do governo federal, ou diretamente com nossos impostos. Obras que na placa custam cinco ou seis milhões e na prática gastou-se um ou dois milhões e se desviou a outra parte, pode ficar certo/a que seu dinheiro foi para o ralo da corrupção, com seu aval, pois você o elegeu.
Veja o tamanho dos partidos, partidos grandes, com fortes estruturas, vá ver e existem grandes empresas e empresários financiando estes partidos. Grandes estruturas de campanha, palanques gigantescos, com milhares de bolas de festa. Lembre-se do aniversário de sua filha, como aquelas centenas de bolas ficam caras, imagine agora milhares de bolas, para cada grande comício? Muito material de campanha sendo derramado pelo meio das ruas, grandes placas de propagandas, outdoors gigantes em pontos estratégicos da cidade.
Vamos para grandes arrastões, para vermos quem bota mais gente? Começa logo com a distribuição de um “kit Montilha/Coca-Cola”, galões da “cachaça batizada”, vindas direto do engenho e ainda saem deixando nas esquinas, montando esquadrões, com uma batucada, bandeiras e tudo mais. “Tudo financiado pelo candidato a Vereador Biu da botija”, que recebeu uma herança, que desenterrou umas joias da família e esta investindo na campanha.
Se for uma carreata, veja como “surge do nada”, várias ordens de combustível, aqueles postos estratégicos fazem fila de carro e moto, quem está bancando tudo isso? Esses grandes partidos sempre estão ganhando as eleições, pois são viciados e profissionais, contratam logo uma equipe de Marketing, o mais caro marqueteiro, contrata um instituto de pesquisa, compra jornalistas e radialistas para que façam análises de conjuntura, de quem pode esta na frente, de quem pode ganhar com tal ou qual vantagem.
Então meu companheiro e minha companheira, esse é um esquema secular de campanhas, que mudou basicamente a forma e os materiais, mas no fundo no fundo é a mesma, surrada e velha política das oligarquias que matam e morrem, mas não querem deixar o poder por nada nessa vida.
Especializaram-se nesses esquemas de usar o povo como massa de manobras. Profissionalizaram-se na política e seus partidos e suas famílias são verdadeiras empresas de fazer política e políticos, por que não dizer verdadeiras máfias, que saem comprando partidos pequenos ou legendas de aluguel para dizer que é: “coligação em nome do povo”; “Coligação da vontade popular”; “Coligação povo de futuro”; “Coligação pelo bem de todos”, entre outras mentiras que ludibria as pessoas de bem.
Ano após anos, vemos partidos políticos de esquerda, sérios e independentes se apresentando com uma nova forma de fazer política, totalmente contrários aos esquemas viciados desses grandes partidos, então algum eleitor diz: “-Eu não vou votar, por que esse candidato não vai ganhar e eu não quero perder meu voto”. Aí, vai e vota naqueles candidatos que acha que vão ganhar, e eles realmente vencem a eleição. Então concluo dizendo que você acabou perdendo seu voto do mesmo jeito, ou pior ainda, pois já tinha indícios de que aquele político era “macaco velho”, que já havia “enfiado a mão em cumbuca” e era viciado em esquemas de corrupção.
Com exceção de uma minoria ainda muito jovem, que talvez ainda não compreenda a complexidade do que esta por dentro da politicagem e dos politiqueiros, todos nós sabemos exatamente o que é, e compreendemos como funciona. Então, não podemos ser apenas espectadores ou coadjuvantes da cena política, apenas em períodos eleitorais. Precisamos ser protagonistas da nossa vida política, pois a política interfere diretamente na qualidade de nossas vidas, nos rumos da nossa economia, nos investimentos ou não, em saúde, educação, segurança, moradia, transportes, cultura, lazer e até mesmo nas condições ambientais de nossa cidade, de nosso estado e do nosso planeta. Seja um ativista político, fortaleça as menores forças que tentam mudar essa lógica perversa de políticos corruptos.
Fontes de Pesquisa:
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FOULCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro/RJ: Graal, 1982. (file:///D:/Documentos/UEPB/Downloads/Microfsica%20do%20Poder.pdf).
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MELO, José Octávio de Arruda (org.). A Paraíba das origens à urbanização. João Pessoa, Editora Universitária, 1993.
MELLO, Moacir Camelo de. Itinerário Histórico de Guarabira, João Pessoa. 1999.
MELO, José Octavio de Arruda. HISTÓRIA DA PARAÍBA: Suas lutas e resistências. João Pessoa: Editora União, 1997 (http://www.ebah.com.br/content/ABAAABMVMAF/historia-paraiba-jose-octavio).
SOARES, Vera Teixeira. Coronelismo e Oligarquias - 1889 – 1934. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
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Fonte da imagem: www.bandeirasnacionais.com
Artigo de: Joana Belarmino de Sousa*
No domingo, tal como devem ter feito milhões de pessoas no mundo todo, sintonizei-me com a Grécia e com a difícil missão do seu povo, que teria de escolher entre dois caminhos, cada um deles tão difícil quanto o outro, com seus abismos, sua impossibilidade de desvios alternativos, seu conjunto de inevitabilidades. Como milhões de pessoas no mundo todo, torci pelo “Não”, e divulguei nas redes sociais, as tags dessa torcida, enquanto acompanhava pelos principais portais de notícias, as repercussões daquele acontecimento. Festejei a vitória retumbante do “Não” grego, ciente da impossibilidade de compreender o tamanho do sacrifício que o caminho escolhido imporá aos cidadãos daquele país, ciente da imensa distância existente entre esta minha precária solidariedade e a real situação de sofrimento vivida pela Grécia, com todas as suas terríveis nuances, as quais somente podemos assistir de muito longe. De fato, para qualquer lado que se olhasse, na terra de Platão e de Sócrates, havia um cenário sombrio a ser contemplado. O não, entretanto, era por assim dizer, o salto mais arriscado. Aquele que colocaria a Grécia no topo de uma montanha, pavimentada toda ela por um caminho de solidão, isolamento, abandono dos trilhos do mundo exterior e do capital internacional. O não envolvia porém, a coragem de milhões de gregos que já haviam desafiado um processo eleitoral anterior, colocando nas mãos de Alexis Tsipras, os destinos do país para os próximos anos. Assim, ouso dizer, o “não” fez mais pela Grécia do que faria o “sim”. Ao mesmo tempo em que expôs ao mundo, o âmago da terrível crise que assola o país, obrigou que o grupo dos seus vizinhos, a Europa toda, representada pela Troika, constituída pela União Europeia, o Banco Central europeu e o FMI, se voltassem para uma compreensão mais aguda dessa crise, que não é apenas da Grécia, mas se gesta na própria forma como se dão os financiamentos das dívidas dos países hoje dependentes do capital mundial. A agonia prossegue, agora com as diversas negociações. Dentro da Grécia entretanto, enquanto tenta adaptar-se ao limitado mundo das contenções, das dificuldades, dos carecimentos, o povo grego alimenta-se da esperança no seu líder maior, Alexis Tsipras, e na possibilidade de construírem um futuro mais digno para o país. Sim, a crise grega é, em larga medida, uma amostra dos caminhos que temos palmilhado ao sabor das diretrizes do capital mundial, cuja acumulação, com predomínio na financeirização do próprio capital, assume proporções inaceitáveis, ameaçando o futuro da própria globalização. Nenhum país pode-se dizer imune à situação de crise que assola o mundo. Mas há que se compreender porque estamos caminhando inevitavelmente para uma posição tão perigosa. Precisamos escutar o que tem nos dito David Harvey, em sua aguda crítica ao sistema capitalista e aos movimentos das suas últimas décadas, que nos trouxeram a esse perigoso agora. * Joana Belarmino de Sousa - Doutora em Semiótica pela PUC/SP, profa. de Teoria da comunicação da UFPB. Fonte: http://barradosnobraille.net/2015/07/07/a-forca-do-nao/ em 7 de Julho de 2015
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